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					 Sobre a Nada A Nada é uma plataforma pluridisciplinar, de pensamento, arte e ciência, que se debruça em 
especial sobre a tecnocultura.
Existimos em suporte papel desde Outubro de 2003. Este site não pretende ser uma replicação da 
revista Nada, prosseguirá seu próprio caminho.
     
    Editorial João Urbano
   
  Melhor que qualquer programa de intenções iniciamos a partir deste momento este como que trabalho inqualificável e indisciplinar que é o site Nada. Não se trata de um duplo da revista Nada ou de um mero suplemento desta, nem se trata de uma revista electrónica. É certo que as linhas de força da revista Nada prosseguirão, embora explorando as virtualidades de um outro suporte, que não o papel. Neste sentido, trata-se não só de construir paulatinamente um arquivo num suporte electrónico com os materiais que a revista Nada vem acumulando ao longo dos últimos cinco anos, como de poder intervir sobre a actualidade cultural, recusando sempre o hoje jornalístico ou qualquer dobra que cheire a jornalismo cultural. Preferimos trabalhar directamente com os filósofos, os artistas e os cientistas, promovendo a hibridação entre campos disciplinares distintos e projectando linhas de força que intensifiquem uma arte laboratorial e um pensamento experimental que ousa quase tudo e não evita questionar a tecnocultura e a demanda de uma pós-humanidade, mesmo que falhada. Assim sendo uma plataforma destas poderá fortalecer e alargar aquilo que começou com a revista Nada (que prosseguirá), e tecer em seu redor um conjunto de alianças e cumplicidades criativas com laboratórios, universidades, artistas, cientistas, e um público leitor global, até pelo uso da língua inglesa em paralelo com o uso do português. O suporte electrónico alocado na internet é hoje um meio privilegiado não apenas de divulgação mas de promoção de ligações e da criação de cumplicidades globais que nos proporciona um outro tipo de trabalho em rede. Estas alianças são fundamentais para a investigação e a concretização de determinados projectos, assim como para a gestação de uma comunidade heteróclita e pluridisciplinar de artistas, cientistas, filósofos, etc. Nesse sentido pretendemos reforçar um trabalho de divulgação e de experimentação destas morfologias híbridas que nos parecem determinantes para o devir do pensamento, da arte e da ciência. De algum modo fomentamos o cruzamento de artistas com cientistas, com filósofos, etc., e pensamos que o trabalho teórico, crítico e artístico deve ter um carácter fortemente experimental. Trata-se também de aproximar disciplinas e seus agentes que muitas vezes vivem em ilhas e de conectar essas ilhas, promovendo ligações estranhas e o impróprio.  Que juntos lidamos melhor com a complexidade, a fragmentação e o devir.   
  Este é um jogo de ligações heteróclitas. A Nada não pertence a nenhum sistema específico, nem ao literário, nem ao cientifico, nem ao artístico, ela está fora do lugar, fora dos sistemas ou campos disciplinares de saber e de seus mecanismos de legitimação, mas vai buscar a esses diversos campos aqueles que podem jogar ao lado. Trata-se da liberdade de dobrar a tecnocultura, tendo-a como material disponível, recombinável e mesmo literário. Trata-se de articular saberes muito diferentes, um mosaico de peças irregulares que não encaixam umas nas outras mas que nessa tensão instalam um campo de forças que afinamos, que se trata de parasitar a dispersão, de compor algo com a multiplicidade, sem a reduzir ou sem a tentar integrar numa totalidade qualquer. Trata-se de abrir caminho. Uma espécie de sobrevir, de compor indícios de mundo com essa multiplicidade de saberes e modos de conhecer, sem sermos apagados por eles, e de operar  arrastando-os. Como se trabalhássemos entre as disciplinas. Uma máquina celibatária que promove as ligações pluridisciplinares ou a ascese do híbrido. E isto sem temer ir a jogo mesmo sabendo tão pouco, sendo tão escasso aquilo que dominamos, caso dominemos alguma coisa, embora se trate de afinar o que sobrevêm sobre todos os dispositivos de cálculo, de poder e de mercantilização do desejo.  
    
   
     
     
  Nada há na rede, nada há nos dispositivos: o furor de nada Jorge Leandro Rosa
   
   A Nada entra  na rede depois de já ter passado seis anos no papel. Não  se trata de uma migração porque não é  para um lugar que nos dirigimos. Permanecemos no papel porque ele nos  lembra uma persistência áspera das palavras que nos  encanta ainda. Mas aquilo que se sustenta de nada não pode ser  definido pelo seu suporte. Nem pelo suposto lugar que esse suporte  ocupa. Muito menos pela origem ou pela referenciação  temática. As palavras que nos ocupam andam perdidas connosco.  Deslocar as palavras nada nos diz. Desde sempre, as palavras  encontram-se jádeslocadas, razão pela qual o  ciberespaço poderia ter sido a explicitação  dessa condição se não estivesse transformado na  farmácia sem horário e sem prescrição do  nosso tempo.  
  Nada é  uma publicação intrigante, já que lhe falta,  precisamente, essa preocupação com a fragilidade da  origem que é própria da nossa condição  contemporânea. Migrar para a rede tem provocado interessantes  dilemas àqueles que se propõem fazê-lo: aos  académicos, mostra que a perenidade das suas palavras deixou  de ser reconhecida; aos publicistas, prova que nada traz menos  saciedade que uma palavra que se considera adequada; aos futurólogos,  demonstra que toda a palavra destinada ao futuro é, afinal,  uma palavra sem tempo. Aqui, deixamos vir as infinitas modulações  que entretecem o poder e o saber, tornados irreconhecíveis e,  de algum modo, irrecuperáveis.  
  A existência  pública da Nada tem, assim, uma espécie de furo  (entrada do furor, diríamos) no lugar onde outras publicações  escrevem o seu programa, o seu desejo de se prenderem às vidas  dos leitores, o seu dispositivo de argumentações. Por  esse furo escoa-se o resíduo daquilo que foi, um dia,  designado como "vida intelectual". Da vida, ficou-nos uma  matéria que desistiu de tentar fixar um ponto de fundação  e de identificação. Nada, nas narrativas com que  tendemos a identificar-nos, nos assegura uma disposição  estratégica. Toda a estratégia deixou de ser operatória  a partir da disposição do sujeito já que todo o  sujeito se encontra absorvido numa disposição económica  que o desdobra, o acelera, o lê e o consome.  
  Na Nada,  ambicionamos o não-lugar, não como exercício  etnológico, mas como condição do que está  hoje vivo naquilo que nos habituámos a ver como humano.  Estamos vivos precisamente porque nos habita a íntima  convicção de que há uma perda irrecuperável  em curso que nos retira à fixação do humano.  Digamos que o ser humano deixou de ser habitável, razão  pela qual tal convicção retoma algo da ordem do  sacrificial: sermos ainda humanos tornou-nos abertos a uma economia  que já não é a nossa nem a "deles",  mas que instala uma espécie de sistema gnóstico onde só  o furor do desejo é ainda acessível nas trocas  indescritíveis que por aqui ocorrem.  
     
     
     
     
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