«O Laboratório Invisível» reúne as últimas obras criadas no âmbito do projecto BLINDSPOT, iniciado em 2004, por Herwig Turk em co-autoria com Paulo Pereira. BLINDSPOT visa criar objectos e dispositivos artísticos que procuram problematizar o valor simbólico da percepção enquanto parte integrante e contaminante dos processos de construção do conhecimento científico.

A abordagem adoptada consiste em isolar e destacar aspectos geralmente invisíveis e periféricos mas que são parte integrante do processo de produção científica. Ou seja, pretende dar-se um protagonismo «dramatúrgico» às contingências, aos determinismos e às circunstâncias que influenciam a formação/construção de uma observação/representação, explorando, em termos artísticos, os fundamentos epistemológicos da ciência incluindo o critério da refutabilidade (Popper), o princípio da incerteza (Heisenberg) ou da incompletude (Gödel).

Por outro lado, propõe-se uma reflexão sobre a representação social do conhecimento científico e do imaginário que a ciência veicula. BLINDSPOT debruça-se sobre as implicações ideológicas, conceptuais e filosóficas de noções como a verdade ou a objectividade, muitas vezes associadas à prática científica. Finalmente, o projecto promove uma articulação integrada e construtiva entre Arte e Ciência enquanto actividades que partilham métodos, procedimentos e uma determinação em encontrar novas formas de representação da realidade.



agglomeration (2003-2009) 
Herwig Turk, Paulo Pereira, Patrícia Almeida
Lambda print, montadas em alumínio/ Dimensão: 80 × 80 cm

agglomeration é constituido por duas séries de fotografias de objectos de laboratório que foram realizadas em dois tempos, uma em 2003 e outra em 2009. Nas imagens, observam-se frascos, tubos de ensaio e caixas que se encontram dispostos em compartimentos fechados (frigoríficos, armários ou esterilizadores). A ordem e desordem dos objectos (arrumados e/ou desarrumados) testemunham as interacções sociais que atravessam o laboratório enquanto espaço social. Nessas prateleiras, coabitam, combinam-se e confrontam-se diferentes projectos, métodos e personalidades. Em 2009, Herwig Turk voltou a esses mesmos frigoríficos, armários e esterilizadores, e fotografou novamente as suas prateleiras de forma a propor um registo das eventuais modificações e transformações culturais que o laboratório tinha experimentado nos últimos 6 anos como, por exemplo, o aparecimento de novos métodos, de novos produtos no mercado ou ainda de novos colaboradores na equipa de investigação.




referenceless (1998-2003)
Herwig Turk, Paulo Pereira
4 caixas de luz, Dimensão: 100 cm × 100 cm × 15 cm

referenceless é uma serie de quatro fotografias que foram integralmente criadas por Herwig Turk a partir de um ecrã de computador vazio, ou seja na ausência de qualquer imagem, referente visual ou manifestação visível (nem um traço nem um ponto). Esta criação ex-nihilo de uma realidade inexistente foi possível graças a um programa de edição de imagem e a aplicação sucessiva e aleatória das suas ferramentas. A manipulação era interrompida quando o autor acreditava que era possível encontrar a imagem obtida com um microscópio electrónico ou com a lente de uma câmara satélite. Dos diversos e reputados cientistas que se pronunciaram sobre estas fotografias, sem saber a sua origem ou o modo como foram produzidas, todos concordaram que as imagens representam tecidos biológicos ou células ampliadas por técnicas de microscopia.



DNA Film (2008)
Herwig Turk, Paulo Pereira
Instalação vídeo de um canal / Dimensão: Variável / Duração: 1.39 min. em loop 

As imagens das sequencias de DNA são organizadas em filas verticais de pequenos quadrados, ligeiramente desfocados, pretos e brancos. Esses desenhos apresentam semelhanças com os cartões perfurados que eram usados nas primeiras máquinas de computação mas também com fotogramas que poderiam ter sido retirados do início ou do fim de uma bobina de um filme mudo a preto e branco. A própria banda sonora da peça DNA Film, criada a partir da medição da luminosidade das frames, parece também fazer eco do som familiar do projector de cinema. De certa forma, o DNA Film propõe ao espectador a experiencia de ver projectada uma sequência genética como se, metaforicamente, estivéssemos a presenciar um excerto de uma vida.


uncertainty (2007)
Herwig Turk, Paulo Pereira
Instalação vídeo, 2 canais, ecrãs LCD 42 polegadas. Duração: 3.10 min. em loop

Nesta instalação, uma câmara «olha» e regista os movimentos de uma solução de fluoresceína colocada num agitador orbital. A câmara encontra-se igualmente apoiada num agitador orbital semelhante e que se move com a mesma velocidade, procurando reproduzir os movimentos exactos da solução de fluoresceína. Na correspondência perfeita a solução apareceria imóvel. Este “momento perfeito” é, no entanto uma impossibilidade uma vez que os movimentos dos dois agitadores não podem ser sincronizados de uma forma perfeita.

Esta impossibilidade é representada num dos ecrãs, ao passo que no segundo ecrã, o movimento foi artificialmente sincronizado de modo a que a solução de fluoresceína apareça imóvel. A imobilização artificial da solução resulta no movimento aparente do fundo branco que serve de cenário, alterando as referências estáveis de inércia e perturbando o sentido de percepção do observador.




hands on (2009)
Herwig Turk, Paulo Pereira
Instalação vídeo com 2 canais / Dimensão: variável / Duração: 5.54 min. em loop

hands on consiste em dois filmes que mostram a sequência de procedimentos necessários para realizar um «western blot», uma técnica comum em biologia celular que permite a detecção e a identificação de proteínas. Nestes filmes, foi pedido a uma equipa de cientistas que reproduzisse esses procedimentos na ausência das ferramentas que normalmente se utilizam nessa operação. Desligados das suas funções, os gestos passam a esboçar uma partitura coreográfica e os cientistas tornam-se intérpretes, cada um com um estilo próprio. As diferenças entre os estilos (o ritmo, a precisão, a velocidade, a qualidade com a qual um gesto é executado) desfazem o cliché da exactidão mecânica da ciência onde o “factor humano” é frequentemente negligenciado.




tools 1# – 10# (2009)
Herwig Turk, Paulo Pereira
Lamdaprint montadas em dipond / Dimensão: 65 x 45 cm

As fotografias da serie tools descrevem e resumem, à maneira de um manual de instruções ou de «story board», as várias fases de um «western blot», uma técnica de biologia celular que permite a detecção e a identificação de proteínas; desde a limpeza dos pratos até ao desligar da fonte de energia. Nestas fotografias, foi pedido a um cientista para reproduzir os diferentes passos desta técnica na ausência das ferramentas normalmente necessárias. Desligados das suas funções e extraídos das suas sequências de movimentos, os gestos ficam suspensos numa relação intermédia entre a posição e o signo. É parcialmente possível reconhecer alguma função ao gesto: uma mão suporta um hipotético recipiente enquanto a outra verte nele um eventual líquido. Simultaneamente, os gestos parecem sinalizar uma outra realidade onde, por exemplo, um dedo, em vez de desligar uma máquina, indica uma direcção ou aponta um objecto invisível. Um pouco à semelhança de uma conversa com a linguagem gestual dos surdos-mudos que aconteceria simultaneamente a uma outra conversa falada, sem no entanto partilharem o mesmo assunto.




gaps (2009)
Herwig Turk, Paulo Pereira, Johannes Hoffmann
Corda, epóxi, tinta para barco / Dimensão: aproximadamente 370 × 230 × 5 cm

A conexina 43 é uma proteína membranar. As conexinas participam na formação das gap-junctions, canais que atravessam as membranas das células e permitem a passagem de nutrientes e de pequenas moléculas sinalizadoras assegurando a comunicação entre elas. A comunicação através de gap-junctions é fundamental para assegurar o bom funcionamento de diversos órgãos e sistemas. São, por exemplo, responsáveis pela coordenação da batida cardíaca ou, durante o parto, pela sincronização das contracções de todas as células do útero.

O Steve Catarino investiga os mecanismos que regulam a degradação da conexina 43. Desenhou modelos que ajudam a compreender alguns aspectos das suas hipóteses dando assim forma a alguns conceitos e resultados indirectos de observações experimentais.

gaps é a reprodução tridimensional do modelo desenhado por Steve Catarino para ilustrar a interacção entre duas conexinas de células adjacentes.



agents (2007)
Herwig Turk, Paulo Pereira
18 fotografias, 100cm × 80cm, Lambda print, montadas em alumínio

agents é uma série de seis retratos de equipamentos recolhidos de um laboratório de investigação. Retirados dos seus contextos usuais, estes equipamentos perdem a relação visual com as suas funções normais, e ganham assim um estatuto de objecto quase escultórico. Composto por três vistas (uma frontal e outras duas de perfil), cada retrato parece também inspirar-se nas técnicas de «identificação antropométrica» da ciência forense para identificar criminosos reincidentes.


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