A comunicação exerce-se sobre imagens recorrentes. A mulher veneno mantém sempre a porta entreaberta, como se nos fosse dizendo tudo depende da tua atitude, tudo depende do meu humor, tudo depende da tua utilidade, tudo depende do meu desmoronar. Mas que tipo de jogo é este pergunta ele? Logo ela replica: não é nenhum jogo. – Como não é nenhum jogo se o resultado é incerto? Não o amor não é nenhum jogo diz a mulher veneno com um ar de menina séria.

Então ele pensou: quanto mais avanço, menos me determino, mas se me estampo o peso dos prejuízos será irreparável. Este jogo exigiria dele um impulso estaminal e o jogo do amor não dependia desse género de lances, para ele todos os jogadores que assim procederam por mais bem sucedidos acabaram no lamento. Estampar sentimentos constitui sempre uma perda considerável, algo no mundo se altera sem que o desejássemos, ora um dos atributos da mulher veneno consiste em fazer estampar sentimentos.

O aforismo refulgente,

«Ama como se nunca tivesses sido magoado»
—Dalai Lama

impresso no meio de um grande coração branco sobre fundo vermelho na penúltima página de uma revista semanal. Ele sabia que se libertaria da mulher veneno, assim seria, a mulher veneno que se movesse, ele como que imóvel, aguardando já não se encontraria no lugar de onde a história tinha começado. Ele receava recaír, assim teria de construir ainda outro antídoto que passaria por exercitar progressões em projectos definitivamente apartados da emoção, aqueles em que os sentimentos se preservam em função de um segregar racional, uma purga sentimental sem se tornar vegetariano.

F

«Só podemos dominar inteiramente a alma humana, se conhecemos, compreendemos e desprezamos muito discretamente aqueles que são forçados a render-se.»

Sandor Márai

Fica então visto que ele suspenderia o consumo de haxixe por tempo alargado, daí a necessidade de encomendar a porção necessária para quando retomasse o tempo da neblina quente, o ciclo da neblina quente alternava com o ciclo da neblina fria, agora iria experimentar o tempo da neblina fria, esta passagem implicava um cerimonial. Era sempre assim que procedia, embebia o haxixe que remanescesse em álcool depois lançava-lhe fogo com um fósforo, reunias as cinzas depositava-as num dos vasos com violetas que dispunha na pequena biblioteca, depois limpava meticulosamente os cachimbos, desmontava-os, limpava peça por peça, desentupia, desinfectava, secava-os, encerrava-os numa caixa de lata que arrumava na primeira gaveta da escrivaninha. Quando concluiu, o crepúsculo absorvia a atmosfera, calçou meias grossas, aconchegou o velho casaco de pele de javali, saiu, assim que chegou à esplanada do Ocidental sentou-se à mesa do amigo dealer que ali sentado, tranquilamente administrava. Tinha um livro sobre a mesa, uma garrafa de vinho verde hospedada num balde de gelo, a cigarreira prateada, o isqueiro, um caderno de capas vermelhas, um lápis de marca. Todas as quintas-feiras se sentava na esplanada do Ocidental, lanchava, jantava, elaborava um poema que jamais ultrapassaria as sete estrofes.

Se agora a poesia doméstica recuperava a banalidade do quotidiano, do viver urbano, da dor do viver, se descurava a demanda da transfiguração do quotidiano pelo miolo da linguagem, aquele poeta para quem nada disso era extraordinário, necessitava de uma estranha forma de reconhecimento, ele que profissionalmente era dealer e que decerto um dia o encontraremos entre aqueles que se levantam para aplaudir.

«O que a cidade faz à cabeça das pessoas

não são desenhos num areal

da electricidade a cidade é eléctrica e digital

assim tu vês as pernas da deusa, voas.»

Era o poema desta quinta-feira e o dealer mostrava-lho, depois numa habilidade que tinha tanto de insólito como nojento e consistia em falar ao mesmo tempo que bebia, tossia ou arrotava, perguntou-lhe, «não está mau pois não?», enquanto fragmentos de saliva se despenhavam por entre as palavras. Então este homem de quarenta anos sem medir as palavras, disse-lhe: também tu enquanto poeta és influenciado por este pó amarelo que avança, este pó amarelo que já é quase cinza brilhante.

(Eis então a árvore do romantismo, o homem – como se todos tivessem a mesma mente – é uma estratégia de possibilidades e caso confluam na destruição das ordens opressoras, as possibilidades concretizam-se, o desenvolvimento das satisfações é assegurado.)

Pois bem o que ele partindo dos seus quarenta anos poderia dizer ao mais convicto dos românticos ou até questionar: era que possibilidades seriam essas e se a consumação não faz sempre parte de uma ordem opressora, de várias, até contraditórias? Ele que até certo ponto tem afinidades com os românticos, sabe que o homem se distribuirá por vários tipos de mente, – é estável e limitado em grande parte – assim como acreditam os classicistas só pela tradição e pela organização realizará uma vida decente. (Decente?)

O dealer poeta ofereceu-lhe uma taça de vinho verde que ele aceitou depois de solicitar um croquete de pimenta, empós embrenharam-se no silêncio enquanto a iluminação pública se estabelecia, não havia anúncios luminosos de redor.

«Sabes que as palavras têm cio quando as seduzo, são elas que manifestam o primeiro sinal»

Bem o que queres dizer é que jogas com as palavras como se fosses também uma? Como se fosses uma única palavra, todo o teu eu uma única palavra que pretendes que aprendamos a pronunciar, queres que acredite que és comandado pelas palavras?

«Isso, nem mais, quando avanço no poema, ao fim de seis sete palavras já não sei o que se segue, mas quantas gramas queres, cinquenta, cem?». Tinha anoitecido completamente, não se viam estrelas, bebericavam a segunda garrafa de vinho verde, comiam camarões de Moçambique.

Cinquenta disse o homem de quarenta anos que agora entraria no tempo da neblina fria, esta encomenda seria consumida quando iniciasse o ciclo da neblina quente, portanto permaneceria de reserva.

«Eu quero dizer é que a poesia, a poesia não sustenta a razão» As palavras vieram por entre pedacinhos de camarão de Moçambique.

Então como consegues falar da poesia? Perguntou o homem de quarenta anos para o acirrar.

«Não vês que o poeta é um guia da sobra? Das sobras em que o real se arruína!!»

O dealer engoliu de golada a taça de vinho verde, o esforço e a velocidade com que tinha exposto a questão obrigara-o a um dispêndio de energia que se estampava nos olhos negros que não eram os originários, aos vinte anos submetera-se a um transplante. O poeta dealer estava perturbado, ele percebeu que o diálogo se encaminhava para um lugar de violência e como não vislumbrou vantagem nesse (destino) introduziu ponderação na conversa, citou-lhe o poeta Manoel de Barros: «Arte há-de ser para sempre uma comunhão da natureza de deus com a nossa naturezazinha particular. Por isso que estilo é particularidade». Não sou crente acrescentou o homem de quarenta anos.

«Tenho-me esforçado em pensar a poesia que não é o que eu mais quero, sabes? Como alguém já disse para se poder ser atraído, temos de ser negligentes é também pela negligência que os humanos progridem, certo?»

O poeta dealer que discretamente tinha entregue o envelope com as cinquenta gramas, tinha os olhos estabilizados, exprimia-se agora com serenidade, quase se poderia dizer que possuía um interessante aparelho de desaceleração.


«Já começava, como é costume da gente que atinge determinada idade, a censurar indiscriminadamente a juventude por ser imoral e pelas sua tendências de espírito perniciosas. Já começava a acreditar que tudo no mundo se fazia naturalmente, que não existia inspiração divina e que tudo devia ser sujeito a uma única ordem rigorosa de pontualidade e de uniformidade. Enfim, a sua vida já rasava aquela idade em que tudo o que respirava entusiasmo se encolhe, em que o som do poderoso violino já chega fraco à alma e não envolve o coração de melodia penetrante, em que tocar o belo já não transforma as forças virgens em chamas, em que todos os sentimentos embotados se tornam mais sensíveis ao tilintar do ouro, escutam com maior atenção a sua música sedutora e, a pouco e pouco, sem se dar por isso, se deixam adormecer por completo», disse Gogol no Retrato.

Enfim, este homem de quarenta anos que respeitava Gogol, gostava de dizer: faça-se o que se fizer o importante é deixar o mundo mais (perfeito), uma possibilidade serena sem princípio nem fim, aos filhos, aos filhos dos nossos filhos, por aí fora, não esquecendo que a acção, o agir determinado não prescinde de horizontes temporais, porque nos inserimos e interagimos em dimensões de tempo que é preferível conhecer quanto mais não seja para podermos recuperar quando nos atrasamos seja em que sentido for, no do atraso ou no do avanço. Na modernidade, o mito da máquina substituiu o mito romântico da natureza, o tempo, um determinado tempo deixou de fundar um princípio de inteligibilidade.


Se houve pelo menos duas linhas divergentes na elaboração da modernidade, aquela que sustenta o conceito de ruptura e aquela que sustenta a consciência de uma tradição, não deixa de ser curioso constatar como o próprio conceito de ruptura é também resultante de uma tradição, conquanto se perceba bem que são duas linhas constituintes da modernidade e que ele, este homem de quarenta anos, sem perder de vista a primeira se insere pelo agir na segunda. Este pai de três filhos pensava e exercia a paternidade que lhe cabia, porque assim como vemos – a maneira, o modo, o peso do ver – afinamos e aquilatamos o nosso ser social, revelando-nos como somos connosco e com os outros, a forma como negociamos e organizamos as relações com as pessoas à nossa volta.

Então ele disse ao dealer: sabes, talvez a poesia seja um jogo incessante pela prioridade da imaginação, da originalidade da interpretação, o poeta aquele que estabelece um degrau, um patamar, um mirante, uma percepção de realidade que comunica, ainda que se não subtraia a essa realidade e se emocione quando percebe que o supérfluo é marca do génio poético.

«Olha ali vem aquele poema, ainda não conhecias a espantosa da minha namorada, ainda não a conhecias pois não?». Então o homem de quarenta anos mal acreditando murmurou: a mulher veneno. «Disseste alguma coisa?». Não, nada, estava só impressionado com a qualidade das pernas. «Ah!». Deu uma gargalhada de satisfação o dealer poeta.

A mulher veneno aquela grácil beleza era namorada do dealer que decerto tinha o prazer e o trabalho de lhe alimentar a imagem, o que para ela resultava numa construção sossegada, proporcionando-lhe tempo e disposição para brincar ao amor sem que o dealer suspeitasse, facilitando-lhe as experiências e os caprichos enquanto mulher «livre» do ocidente.

«Por si, a relação entre ovo e galinha é uma relação circular de implicância recíproca, que comporta, segundo a lógica uma regressão até ao infinito. Senão houvesse galinhas, não nasceriam ovos, assim como, e vice-versa, sem ovos não nasceriam galinhas. Isso não invalida que o ciclo da vida comece sempre pelo ovo. Se não procuramos um inicio originário na noite dos tempos, mas queremos apenas determinar inícios de ciclo, então está correcto colocar o começo no ovo».

G

Granjeou a situação possibilidade de construir um modo de olhar e ver como a grácil criatura tinha cumprimentado o namorado – o homem de quarenta anos deteve-se nessa construção, digamos que aferiu a poética daquela fantástica mulher, poética construída e imanente. Ela roçou o corpo esbelto como se efectuasse uma discreta dança, depois disse-lhe: olha aquelas flores e quando o poeta - dealer levantou a mão na direcção das flores, beijou-a com ternura e sorriu longamente sem parecer estúpida. Ele teve a certeza que a coreografia também se lhe destinava, tratava-se de uma pequena bofetada aplicada na sua ética de amor infantil, sobretudo no que essa ideia de amor tem de asfixiante. Ela virou-se depois para ele e disse com candura: há quanto tempo não o via?!

«Mas que bonito, afinal também o conheces!»

O homem de quarenta anos permaneceu silencioso de olhar concentrado, a grácil mulher avançou uma explicação: conhecemo-nos há muito tempo, foi num congresso sobre história da pintura se é que não me engano.

Alimentar e fazer durar um mosaico de reflexões é desempenho na grande maioria das vezes destinado ao fracasso, inventar sobre isso a poética é então um objectivo trágico ainda que risível como toda a acção e situação animais num derradeiro esforço não deixam de comportar. Como experimentar e pensar o amor dedicado a três dimensões, sustentar a autonomia desses procedimentos, nutrir, progredir, será este homem de quarenta anos alguma singularidade, uma possibilidade distante de se encontrar testada? Ora! A poética em confronto com a paisagem, construindo e destruindo paisagens... é uma questão de concepção do mundo, do que se elabora a partir do que se vê ao contemplarem-se os lugares, os não lugares da sobremodernidade, o espaço que os estabelece.


As fases de transição que não se resolvem satisfatoriamente por meio dos parágrafos, as fases de transição que podem ser longas mas que ainda assim não deixam de ser de transição transmitiam-lhe desassossego, desassossego negativo que lhe entranhava o sistema nervoso e o enfraquecia pois quando ele retirava a base das convicções para linhas menos expostas, era de uma espécie de fraqueza que as suas estruturas centrais eram portadoras, como se um movimento centrípeto – aquele que se aproxima do seu eixo de rotação – o impelisse numa viagem infeliz para lhe lembrar como feixes de possibilidades se extinguem. Estas mediações fronteiriças que são as fases de transição caracterizam-se pela multiplicidade de impasses implicando contínuos reajustes tácticos que quase lhe perigam a estratégia principal que consiste na capacidade, na densa capacidade de seleccionar e prosseguir rumos. Interpretar a vida cujos referências externas admitem práticas que tranquilizam pelo prazer, como se todo o sistema perceptivo e activo se mantivessem vivos, capazes. Este homem de quarenta anos, o irmão mais novo do Zevastião, entendia a inteligência como marca respeitável da natureza, absolutamente respeitável porque em caso algum podemos prescindir do saber, o saber fazer em sua interminável consumpção, o combate contra a estupidez, a estupidez que é fonte da galeria de atrocidades que os humanos interpretam em lancinantes planos – acção, a estupidez que em seu fulgor liberta a esperteza. A inteligência, a estupidez, a lucidez que salva.

«A tua confiança em ti próprio era tão grande que não tinhas necessidade de te manteres consequente para teres sempre razão. Pode também suceder que em determinado caso não tivesses qualquer opinião, e seguir-se que todas as opiniões possíveis na ocorrência estavam necessariamente erradas, sem excep­ção.»

Agora que há escolas para pais, ensinam pais a serem pais, ele não consegue deixar de soltar uma gargalhada e simultaneamente concentrar as peles que lhe revestem a testa, ele que é pai de três filhos, para se interrogar: Mas tempo é este? O tempo de: «Tento interpretar discursos imagéticos pré-existentes. Tal como Foucault, não me interessa saber o que se passou num determinado espaço/tempo, mas antes o modo como as pessoas falam desse espaço/tempo. ... a representação do presente torna-se então tanto mais verdadeira quando despida de emoção e sentido». Lixo, cada vez mais lixo, velocidade e lixo, quanto mais se desfruta uma coisa mais lixo ela produz, serão as lixeiras verdadeiras bases de dados?

Ensinar pais a ser pais coloca-nos num espaço sem horizonte, pois então quem são estes que ensinam os pais a serem pais e estes filhos como assimilarão esta interminável hesitação? Como é que se pensa a pulverização das perguntas? Uma chuvada de perguntas? Talvez convocando o pai do Kafka, é o que lhe ocorre. Convoca-lo não para o interrogar mas para o confrontar com o sujeito que é o seu próprio filho, não para lhe dar qualquer lição, mas para levá-los a apertar a mão, não porque cada um cedeu o suficiente para o efeito, nem porque se tenha um deles ou os dois encavalitado num qualquer degrau, mas porque cada um tendo à sua maneira sido claros e estando mortos, se tenham resolvido. Ou que o próprio Kafka estendesse a mão desse um «passou-bem» vigoroso e acrescentasse: até depois, um destes dias escrevo-te, carta que ficará entre nós.

«Como tinhas um poderoso apetite e uma propensão particular para comer tudo muito quente, rapidamente e com grandes bocadas, era necessário que a criança se despachasse; reinava na mesa um silêncio lúgubre entrecortado de censuras: «Come primeiro, falarás no fim», ou então: «Estás a ver, já acabei há muito». Não se tinha direito a roer os ossos, mas tu tinha-lo. Não tínhamos o direito de comer o molho, mas tu tinha-lo. O essencial era cortar o pão direito, mas era indiferente que o cortasses com uma faca suja de molho.»

As fases de transição num espaço projectado que necessitavam e convocavam o instinto de composição do arquitecto, até certo ponto a sua ideia de arquitectura, as complicadas fases de transição foram como que superadas pelo desempenho do elevador que estabelece velozes conexões mecânicas, pois que se o elevador não resolve completamente a abordagem ás fases de transição contribui decididamente para secar os pântanos na nossa forma de ver. Por exemplo para ele era nítido que o Dealer Poeta não exercia poesia cuja finalidade fosse discorrer sobre o nome impronunciável da poesia, não obstante os seus jogos de sedução mascarados de palavras, um hino que fosse à incapacidade de dizer. Do foguetório do quotidiano viver, do deflagrar das situações, relâmpagos da realidade, sendo poesia do Dealer Poeta – constituía neste tempo de velozes percepções, a tentativa do dizer do primitivo que depois do buril das civilizações persistia humano, a continuidade humana, a emoção da descoberta como se alguma ignorância voluntária funcionasse enquanto elevador rudimentar que permitiria descobrir e inventar mesmo na diluição das fases de transição. A experiência regozijante e silenciosa.

A linguagem não é a verdade nem o tempo mas sem a linguagem do que nos serviria a verdade ou até viver?

Afinal o homem de quarenta anos pensou que tinha encontrado no Dealer Poeta alguém que sem o saber se prestava na interpretação da ideia de amor do italiano G. Agamben: «Viver na intimidade de um ser estranho, não para nos aproximarmos dele, para o dar a conhecer, mas para o manter estranho, distante, e mesmo inaparente – tão inaparente que seu nome o possa conter inteiro. E depois, mesmo no meio do mal-estar, dia após dia não ser mais do que o lugar sempre aberto, a luz inesgotável na qual esse ser único, essa coisa, permanecesse para sempre exposto e murada.» O amor do Dealer Poeta pela mulher veneno visaria a realidade, um gesto de perseguição no real, uma deambulação eufórica, paisagem de primavera entrecortada por outra de outono, ele que escreveu um poema a que chamou «Das benfeitorias» inspirado no facto do governo chinês por volta da década de 50 do século passado tentar combater uma praga de ratazanas que consumiam as colheitas oferecendo recompensas pelo extermínio das mesmas, o que estimulou a criação das ratazanas pelos camponeses.

Não são os golpes desferidos ao lado aqueles que pregam o prego, mas aquele que lhe acerta: porém muitas vezes nem pregos há, gostava de dizer o homem de quarenta anos que entre outras ocupava-se com a ideia em que existem paisagens imutáveis no interminável vendaval das épocas.

Agir na construção e reconstrução das paisagens é isso que é a poesia e se bem que ao evoluir para processos de comunicação forme uma espécie de escudo, esse escudo aproxima mais do que afasta, talvez os poemas não necessitem de ser novos da mesma maneira que as alfaces têm de ser frescas.

Então ele lembrou-se que tinha de regressar, tinha entrado no tempo da neblina fria, o Poeta Dealer como a mulher veneno sorriram.

«Cortaram-lhe na parte detrás da cabeça um pedaço de crânio com a forma de um segmento. Com o sol, toda a gente olha para dentro. Isso torna-o nervoso, distraio-o do seu trabalho e aborrece-se com ser, precisamente ele, excluído do espectáculo.»


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